6/21/2010

José Saramago

 

jose saramago

Não tive a oportunidade de o fazer na data, mas não queria deixar passar em branco o desaparecimento de José Saramago, homem e escritor.
Confesso que não sou consumidor nem apreciador da sua obra. Do que tentei ler em diversas ocasiões e de diversos títulos, nunca gostei. E há impressões assim, imediatas. Ou se gosta ou não gosta. Uma espécie de contacto com água gelada ou a ferver, sem paciência e tempo para que ambas amornem e a leitura se torne tépida. Há na obra de Saramago algo de intragável, de ilegível e incompreensível e não resulta apenas daquela tempestade de vírgulas e pontuação destemperada. Não. Há algo mais.Talvez mal habituado a ler e a gostar da literatura balizada de Eça a Torga, passando por Lobo Antunes (este o meu Nobel) sem terem nada a ver entre si, nunca entrei nos carris que conduzem o vagão da interpretação à obra de Saramago, que dizem, e acredito, ser profunda e desmistificadora. Seja como for, o seu legado literário deve ser importante porque, para além de tudo, foi reconhecido pelos fazedores de nobeis e a malta da escola conhece-a à custa de tanto turrar nas memórias imemoriais do convento e Blimunda.


Saramago, como muitos escritores de referência, contemporâneos ou desaparecidos, para além da qualidade que certamente tinha, nunca se privou dos elementos que transformam a polémica e a controvérsia em notoriedade e por arrasto em vendas e êxito; e todos sabemos que o sucesso editorial nem sempre andou a par da qualidade ou merecimento, sobretudo nestes tempos das máquinas tentaculares do marketing e dos média onde qualquer autor medíocre (não Saramago) torna-se rapidamente num fazedor de best-sellers. Basta o clique, o tempo e o modo. Saramago ainda soube perceber isso e alguma da sua obra tida como marcante ou referencial advém de alguma ruptura de pensamento, umas vezes com ele próprio, outras, na maioria, com a sociedade e com alguns dos seus elementares valores, caso da Igreja católica. Saramago deixou à posteridade esse ensinamento, esse degrau necessário na subida ao altar do êxito, das vendas e da consagração, esta obtida sem dúvida pelo Nobel em 1998. Temos assim um Saramago antes e pós Nobel e nem poderia ser de outro modo, pelo que considero que o que produziu depois de laureado apresenta-se-me nitidamente como mais comercial.

Assim, vejo-o partir, ou deixar de estar, como dizia quanto à morte, ainda a meio de uma luta pessoal. Caím, foi apenas uma dessas batalhas; Porventura faltaria travar outras mas deixou a obra inacabada e certamente precisaria de mais longas vidas para almejar chegar perto do desfecho e da obtenção da serenidade, não esta que os próximos procuraram transmitir em letras de forma num pesaroso e discreto fundo negro. Não creio, assim, que tenha partido em serenidade, pelo menos espiritual ou algo parecido e adequado à sua condição de ateu confesso. Todavia, cumpriu com dignidade o seu percurso, sobretudo como homem, quiçá menos como autor, sendo que no fundo, acertadas as contas, desaparece o homem mas permanecerá o escritor.

Para além destas considerações pessoais, só isso, Saramago, goste-se ou não, para o presente e futuro, será certamente um dos nomes grandes e de referência da nossa literatura e não se gosta menos desta por se gostar menos daquele e vice-versa.

6/07/2010

Os “pilhas” do volfrâmio

 

«Por "Pilhas" eram conhecidos os volframistas que demandavam a serra sem contrato nem projecto definido. Pilhavam pela certa ou ao acaso, consoante a experiência, a audácia e também a sorte.  Tanto podiam demorar-se na serra alguns meses, como apenas alguns dias. Dormiam onde calhava, abrigados por uma pedra maior ou em barracos improvisados, sem segurança nem higiene.

Invadiam as zonas mineiras no início da Primavera e demoravam-se até ao fim do Verão, se a sorte fosse ajudando. No Outono e Inverno regressavam às terras de origem, porque a chuva, o frio e a neve não permitiam que lá ficassem por mais tempo.

Havia, no entanto, vários tipos de "Pilhas": Aqueles que a coberto da noite, ou das reentrâncias da montanha, em pleno dia, procuravam volfrâmio nos afloramentos de superfície, dentro das concessões, mas sem autorização do concessionário; Os aventureiros que cavavam aqui e ali, fora das zonas concessionadas, na esperança de encontrar o ouro negro que lhe permitiria fazer uma pequena fortuna, para voltar depressa daquelas paragens inóspitas, onde não havia lei nem segurança para pessoas e bens;  Os desempregados famintos ou agricultores miseráveis que chegavam à região mineira, levando na sacola couver e broa, a pedir emprego às empresas mineiras. Poré, não lhe sendo dado emprego na Companhia podiam ser convidados por esta a pilhar nas zonas mais pobres da concessão, por sua conta e risco, sem vencimento nem outros encargos para a empresa. Comprometiam-se, no entanto, a vender à concessão todo o minério assim encontrado, pelo preço, muito baixo, que esta determinava em cada momento.»

...parte considerável dos "Pilhas" era gente jovem, de um lugar ou freguesia, que estabelecia entre si, oralmente, as regras de uma sociedade ad-hoc e partia à aventura, sem ter nada para perder e tudo para ganhar. Um pouco de sorte num dia, poodia constituir a fortuna de 5 ou 10 contos no bolso, tanto dinheiro como nunca tinham tido, o que originava quase sempre uma infinidade de desmandos.

 

[fonte: O Volfrâmio de Arouca (A. Vilar, C.M. Arouca)]

Volfrâmio - Tungsténio

 

O elemento químico volfrâmio, também chamado tungsténio (símbolo químico W) é um metal que possui propriedades extraordinárias. Tem o mais alto ponto de fusão (3410 ºC), a menor expansão térmica, de entre todos os metais, e a sua densidade é elevadíssima (19,3 gcm-3; atente-se, como comparação, aos 7,86 gcm-3 do ferro). Combinado com o carbono, constitui o carboneto de tungsténio (WC) que é uma das ligas metálicas mais duras que se conhece.

O tungsténio nos tempos da guerra era usado, fundamentalmente, em três aplicações: 1- aços duros para fazer ferramentas de corte, 2- pontas perfurantes para armamento (rockets), e 3- aços usados em blindagens anti-perfurantes para tanques. Actualmente duas das maiores aplicações é como filamento de lâmpadas, e em ligas para perfuradoras usadas na prospecção de petróleo e na indústria mineira.


É virtualmente impossível saber quanto volfrâmio foi extraído nas serras de Arouca, porque muito do volfrâmio era vendido pelos "pilhas" que o obtinham ilegalmente. As minas de Rio de Frades e Regoufe constituem, no concelho de Arouca, o primeiro grande movimento de industrialização e de proletarização, e ainda, o maior investimento estrangeiro, no concelho até aos dias de hoje.


A exploração do volfrâmio em Arouca remonta pelo menos a 1910. A extracção terminou em data incerta na década de sessenta. Portugal foi um importante produtor mundial, sobretudo no período das duas Guerras Mundiais e em especial nos anos 1941-42 (veja-se o gráfico da página seguinte); a Guerra da Coreia, na década de cinquenta, proporcionou outro "pico" de produção. O volfrâmio em 1942 estava oficialmente cotado ao preço de 150 escudos o quilo; no entanto no mercado livre vendia-se a 500 escudos chegando no pico do conflito mundial a transaccionar-se a 1000 escudos. Nessa altura um mineiro ganhava 18 a 20 escudos por dia e um trabalhador rural 7 a 8 escudos, importâncias que permitem relativizar o valor do metal na altura.


A procura do metal pesado era tal que no vale de Alvarenga os campos foram todos revolvidos até à profundidade de 6 metros (tratava-se aqui de extrair o volfrâmio aluvionar). No entanto, quase todas as minas eram subterrâneas e estendiam-se por centenas de metros e por vários pisos.

 

[fonte: arouca.net]

Mina de volfrâmio de Rio de Frades – Cabreiros - Arouca

 

O antigo Couto Mineiro de Rio de Frades localiza-se na freguesia de Cabreiros (186 habitantes), junto à povoação de Rio de Frades; as primeiras minas de volfrâmio foram aqui demarcadas em 6-5-1914. 

A exploração destas minas, no período das Guerras Mundiais, foi efectuada pela Companhia Mineira do Norte de Portugal, pertença de alemães. Do ponto de vista social, e a título de comparação, as minas de Rio de Frades, onde chegaram a trabalhar mais de 3000 pessoas, foram tão ou mais importantes que a mina de Neves Corvo no Alentejo, que tem cerca de 1000 trabalhadores, e que é uma das mais importantes minas actuais da Europa.

De entre as várias minas na região de Rio de Frades, a mina de Vale da Cerdeira, situada numa abrupta escarpa ribeirinha a cerca de 1 km da aldeia, foi a mais importante. Os filões eram sub-horizontais (inclinando 10º-15 º para W) e de direcção N10º-30º W, encaixados em xistos. No plano de lavra desta mina, realizado no ano 1916, encontram-se dados interessantes acerca da exploração.

O desmonte do minério consistia em abrir galerias com a direcção do filão, a diferentes cotas. De 30 em 30 metros abriam-se galerias inclinadas ao longo do pendor do filão, ficando este, assim, seccionado em prismas rectangulares, que eram desmontados através do método dos degraus invertidos (isto é, da parte inferior para a superior). Pelo menos onze filões, sub-paralelos e a diferentes níveis, eram conhecidos já em 1916, na mina de Vale da Cerdeira. O minério e o estéril eram despejados em chaminés, sendo recolhidos na galeria de extracção existente a uma cota inferior à do filão mais baixo. O salário diário de um mineiro, no ano 1916, era de 0$50-0$60 (qualquer coisa como 1 cêntimo de Euro, por 4 dias de trabalho !); no entanto as raparigas, que trabalhavam na superfície, ganhavam apenas entre 0$16-0$20 / dia. Em Rio de Frades foram abertas mais de 6 km de galerias. Uma delas, acessível perto do aglomerado de habitações designado "Bairro de Cima", tem cerca 157 m e fura o monte em linha recta, indo desembocar, junto a uma queda de água, num cenário de grande beleza.

 

[Fonte: Arouca.net]

Minas de volfrâmio de Poça da Cadela – Regoufe – Covelo do Paivô - Arouca

 

A mina de Poça da Cadela, situada junto a Regoufe, aldeia da freguesia de Covelo do Paivó (169 habitantes), foi concedida para exploração em 9-9-1915, tendo sido extinta por decreto lei em 1990. Esta mina foi explorada, no seu período áureo, pela Companhia Portuguesa de Minas, que na realidade pertencia a ingleses. Sendo a mais importante na zona de Regoufe, era  composta por mais de uma dezena de filões de quartzo com uma mineralização de volframite, cassiterite, arsenopirite e, acessoriamente, pirite, blenda, apatite e berilo. Os filões de direcção média N 30º E, e 35º a 45º de inclinação para NW, tinham, normalmente, uma espessura entre 10 e 20 cm (excepcionalmente, até 50 cm); encontravam-se encaixados no granito de Regoufe. Contornando o plutão existe uma auréola de metamorfismo de contacto até 2 km do granito, onde existiram outras minas (Muro, Raposeira e Cerdeiral). A mina de Poça da Cadela ocupava vários pisos; actualmente podem observar -se mais de uma dezena de entradas de galerias. Entre 1935 e 1951 foram extraidos 639 000 toneladas de minério de volfrâmio e estanho das minas na região de Regoufe.

[fonte: arouca.net]